domingo, 30 de dezembro de 2012

A Noite Escura da Alma II - Equilibrista na Beirada do Abismo

            "Diz-se" que os anjos não pisam para não contaminar sua natureza espiritual e luminosa no contato com a matéria densa e obscura. Assim, eles estão sempre flutuando acima do solo e jamais o tocam. Este é um dos paradoxos da canção a que se refere o link aí abaixo - mas este é um paradoxo visível, fácil de determinar, desde que você tenha, por exemplo, lido a história em quadrinhos do Sandman, escrita por Neil Gaiman, intitulada Estação de Brumas. Nessa história Lúcifer ocasiona uma enorme confusão de alcance cósmico quando fecha o Inferno e presenteia a chave ao Sandman/Morpheus/o Mestre dos Sonhos... Não vou recontar a trama, não é para isso que este post está sendo feito, quem se interessar que vá atrás...  Lá pelas tantas aparecem na história os anjos Remiel e Duma, enviados por Deus para observar como é que o Senhor do Sonhar vai se haver com a enorme encrenca representada pela posse da chave do Inferno: eles não pisam, estão sempre flutuando logo acima do chão...
            Mas isto aqui não é para falar (ou escrever) sobre o Sandman. Já se escreveu e falou muito a respeito por aí e, embora seja sim uma obra digna de atenção e de menção, este não é o momento nem o lugar. O assunto aqui é a ideia d'A Noite Escura da Alma; uma canção rock 'n roll que fala dela e dois dos paradoxos presentes nessa canção:
              Equilibrista na beirada do abismo/ quem sabe eu caia ou talvez vá voar - dizem os primeiros versos. A imagem é forte, visceral, remete à ideia da caminhada sobre o fio da navalha, a rituais de iniciação ancestrais nos quais o neófito se arrojava no abismo, era despedaçado e depois retornava reconstruido - e contém um paradoxo que só quem conhece para saber. São palavras escritas por uma poeta da melhor qualidade e competência, sem dúvida, mas que nunca se viu de fato equilibrando-se na beirada do abismo... A autora das palavras dessa letra, que fala com maestria sobre uma situação de vida no limite, sobre uma forma possível e (neste nosso mundo contemporâneo) recorrente de noite escura da alma, nunca esteve (pelo que posso saber) nem mesmo perto de um limite como este que é indicado pela letra da canção. Etel é uma pacata (se é que se pode defini-la assim) dona de casa, formada em medicina no final da década de 1970 e aposentada do Banco do Brasil há alguns anos... Nunca foi roqueira nem fez parte de nenhum movimento de contracultura; não foi adepta do sex, drugs and rock 'n roll, nem jamais vendeu todos os móveis levando na troca pó de pirlimpimpim...
            Talvez poesia seja isto (também): expressar-se com propriedade sobre o desconhecido, sobre aquilo que está distante e que não faz parte do mundo do poeta. Talvez o poeta seja alguém que possa colocar-se no lugar do outro, sentir e experimentar por ele, mesmo não compartilhando de seu tempo, de sua verdade, de sua experiência vivida. Sei que, com o historiador é assim (ou deveria, idealmente, ser). O historiador fala sobre o passado, portanto um tempo ausente e que ele não pode conhecer de fato, a não ser por vestigios, pistas, indícios, testemunhos de quem viveu/esteve lá... E o poeta? Ele goza de maior liberdade que o historiador para falar sobre o que bem quiser. Ele tem a licença...

A canção:

 Onde Os Anjos Não Ousam Pisar - Zé Rodrix e Etel frota

 imagem da internet
http://www.etelfrota.com.br/ONDE-OS-ANJOS-NAO-OUSAM-PISAR_Ze-Rodrix.mp3


Tomara que o link funcione, pois ele já é um pouco antigo e eu estou trabalhando numa máquina onde o som deu pau, portanto, não dá pra ter certeza... Se não funcionar, por favor, reportem-me o fato para que o problema possa ser resolvido... O texto postado não faz muito sentido se não se puder escutar a música... E continua em breve esta reflexão sobre a Noite Escura...

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