quarta-feira, 20 de março de 2013

A Rifa: ultima atualização

Agora é para valer e desempacar, mesmo que aconteça de novo o que aconteceu da ultima vez, que não saiu nenhum numero no sorteio federal, desta vez se não sair no dia marcado, será no seguinte, ou no seguinte, ou no seguinte, até sair. Fica então marcado para o sorteio da Loteria Federal de 10/07/2013. Será a primeira pedra a sair do globo no sorteio que acontecerá a partir das 20h25m desse dia com transmissão ao vivo da rede Bandeirantes no "Momento da Sorte". Disponibilizadas 100 dezenas a R$ 20,00 cada. Numeros já vendidos: 01, 03, 05, 07, 09, 11, 12, 13, 14, 15, 18, 20, 22, 23, 25, 27, 29, 31, 34, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 45, 46, 47, 51, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 64, 67, 69, 70, 71, 73, 77,  81, 99. As obras:
 
A VISTA DAQUI ou a janela azul

 Técnica mista (pintura/desenho sobre papel colado e cimentado aplicado em placa de duratex; a moldura forma, com o restante dos elementos, uma peça única - ou seja: não está em separado da obra). Dimensões: horizontal 53 x vertical 43 cm.

 O CÉU ANCESTRAL
 

  Técnica mista (pintura/desenho colagem de materiais diiversos sobre placa de duratex cimentada e gessada; como no trabalho anterior a moldura forma, com o restante dos elementos, uma peça única - ou seja: não está em separado da obra). Dimensões: horizontal 70 x vertical 83 cm.
 
AURORA DO SATÉLITE SOBRE A MONTANHA
 

 Técnica mista (pintura/desenho sobre papel colado e cimentado aplicado em tela; sem moldura). Dimensões: horizontal 62 x vertical 91 cm.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Abra uma Porta



Mal e mal começou e este blog será obrigado a dar um tempo... Não são propriamente férias - de férias eu estou agora (ainda), e isso vai acabar logo, no máximo mais alguns dias, e tudo vai voltar ao ritmo normal, ou seja, acelerado, nada mais da ilha de paz e tranquilidade deste momento, quando tenho todo o tempo do mundo pra seguir minhas preferências.

Não conclui, como era o primeiro intento, minha reflexão sobre A Noite Escura da Alma: a culpa, o castigo e o perdão - eu sempre me meto a tentar resumir em poucas palavras coisas que mereceriam teses ou tratados e, obviamente, nunca dou conta. Também, nunca tive a pretensão de possuir alguma verdade definitiva que pudesse dar um ponto final em assuntos tão complexos... Só quero é apresentar o meu entendimento, até mesmo porque não há nada mais que eu possa fazer senão isso.

Claro que vou voltar ao assunto, até porque ele mal e mal foi arranhado na superfície e este tem sido um tema importante para mim agora - quando estou me libertando de culpas e assumindo um novo momento na vida, mas não vou forçar a barra comigo mesmo me apressando para chegar a conclusões artificiais. Isto aqui surgiu para ser muitas coisas, não uma só - um painel do mundo variado, da vida mutante e mutável, das impressões fugazes, das impermanências... Tudo o que vive um dia nasceu. Tudo o que um dia nasceu não era nada antes de passar a ser. Tudo o que um dia passou a ser morrerá. Aquilo o que conhecemos, tudo no que acreditamos, tudo o que somos... A vida é fugaz como a chama de uma vela que se acende, brilha por algum tempo e depois se apaga. Simples assim.

Cada um de nós não passa de mais um na multidão e temos todos, o tempo inteiro, que sobreviver a um enorme volume de informações, imagens, vozes, dados e discursos de todo tipo. Viver é movimentar-se em meio a paradoxos, inconsistências e incertezas. Ainda que Deus exista e dite o modo de vida correto, estamos condenados à dúvida e ao livre-arbítrio. Eis o mundo onde tudo é possível, onde todas as verdades absolutas e acabadas são obrigadas a conviver entre si como absolutamente iguais ou equivalentes. A História é sempre história do presente, faz parte do discurso de sua própria época ou da forma contemporânea de entendimento do mundo, por mais que se refira ao passado. E o mundo presente é impalpável, impermanente, caótico, volátil - um abismo sem fundo povoado de vozes e imagens e ruídos. Tudo o que há de mais importante para se saber é que, por mais que saibamos, nunca sabemos nada. A única conclusão que a vida oferece é a morte e, se existe algo depois, não nos cabe saber - pode-se, no máximo, acreditar - o mais é vaidade.

Em 2012 o bicho pegou: perdi meu pai, fiz alguns inimigos, entrei num acordo de armistício com alguns outros nem tão inimigos assim para que nos mantivéssemos cada qual na sua enquanto havia assuntos mais complicados para resolver, concluí um curso universitário na idade madura, antevéspera de ficar velho – e assisti de camarote o fim do mundo... No dia marcado para o Apocalipse eu, agora órfão, estava viajando em férias para ver minha mãe, agora viúva. Toneladas de fardos pesados foram descarregados do lombo e restava agora uma exaustão, um cansaço acumulado, uma fome voraz e muito sono atrasado... Nada de aventuras até a reinauguração do mundo, mais recolhimento e descanso, recuperar as forças e manter a concentração para o trabalho que ainda vem por aí: nada menos que construir o mundo novo.

A morte é inevitável e irresistível quando chega a hora, e ela presenteia os vivos com a percepção da eternidade; os inimigos são necessários para que possamos definir quem realmente somos, assim como os reflexos no espelho nos mostram ao contrário para nós mesmos. Neste momento não há crise, tudo está fácil e suave, e fica difícil levar este texto a uma conclusão que nem existe. Depois de ter escrito tudo isso que está aí acima, o que resta? Sem crise não há arte, como sem dor não há alívio... Ah, sei lá, desisto por enquanto. Vamos abrir uma porta!...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Entre parênteses: O Inferno de quem escolheu por sua própria consciência ou ainda bem que eu não nasci no século XIV - Canto X da Divina Comédia

Ilustração de Gustave Doré

O Canto X da Divina Comédia de Dante Alighieri é o Inferno dos Hereges/heresiarcas. Originalmente, heresia significa escolha (uma escolha diferente daquela que era imposta pela Igreja), uma outra interpretação dos dogmas e verdades canônicas, às vezes na vírgula, no detalhe.
Na Itália dos séculos XIII e XIV as ideias de liberdade de pensamento e de culto nem sequer passavam pelas cabeças das autoridades, e, não bastasse a condenação eterna aos tormentos do inferno, também pesava sobre os hereges a ameaça das rodas, tenazes e ferros em brasa nas catacumbas e/ou as fogueiras em praça pública.
Não era nada fácil fazer escolhas, já que a possibilidade de faze-las livremente (e, ainda mais, de mantê-las) era nula. A culpa era pressuposta antes mesmo de ser conhecida - cabia ao acusado provar que era inocente, e era raro que o conseguisse, dependendo de quem o acusava. Em seu enorme e clássico poema, Dante Alighieri condenou ao Inferno alguns "escolhedores" que haviam feito opções diferentes - desde Epicuro, filósofo materialista grego dos século IV e III a.C. (com todos os seus seguidores), até contemporâneos seus, adversários políticos e mesmo amigos que não compartilhavam de suas crenças.
Numa série de postagens sobre a Noite Escura da Alma, a culpa e o castigo, não dá pra não passar pelo Inferno de Dante, particularmente o inferno do canto X, onde estão aqueles que foram condenados porque escolheram a partir de suas próprias consciências. Aqui ainda estamos muito longe da ideia de perdão.


Canto X
Tradução de José Pedro Xavier Pinheiro

Caminhando os Poetas entre as arcadas, onde estão penando as almas dos heresiarcas, Dante manifesta a Virgílio o desejo de ver a gente nelas sepultada e de falar a alguém. Nisto ouve uma voz chamá-lo. É Farinata degli Uberti. Enquanto o Poeta conversa com ele é interrompido por Cavalcante Cavalcanti, que lhe indaga por seu filho Guido. Continua Dante o começado discurso com Farinata, que lhe prediz obscuramente o exílio.
 
Entra Virgílio por vereda estreita,
Que entre o muro e os martírios vai seguindo:
Após os seus meu passo se endireita.

— “Virtude suma! Ó tu, que, dirigindo
Me estás, ao teu sabor na estância triste,
Me instrui, ao meu desejo deferindo.

“A gente ver se pode que ora existe
Naquelas sepulturas descobertas,
A que nem guarda, nem defesa assiste?” —

— “Serão” — me respondeu — “todas cobertas
No dia, em que, de Josafá tornando,
Os corpos tragam, de que estão desertas.

“Epicuro aqui jaz com todo o bando
Dos discípulos seus, que professaram
Que alma fenece, a vida em se acabando.

“O que as tuas palavras declararam
Satisfeito há de ser, como o que vejo
Dos votos que em teu peito se ocultaram”. —

— “Não te expus, meu bom Mestre, quanto almejo,
Porque de breve ser tenho o cuidado,
E a mais longo dizer não deste ensejo”. —

— “Ó Toscano, que, vivo hás penetrado
Do fogo na cidade e és tão modesto,
Detém-te um pouco, se te for de agrado.

“Por teu falar me está bem manifesto
Que nessa nobre pátria tens nascido,
A que fora eu talvez assaz molesto”. —

Ouço este som, de súbito saído
De um dos jazigos: tanto eu me torvara,
Que ao Mestre me achegava espavorido.

— “Que temes tu?” — Virgílio diz — “Repara:
É Farinata em seu sepulcro alçado,
Do busto em toda a altura, se depara”. —

Na sombra os olhos tinha eu já fitado:
Altiva levantava a fronte e o peito,
Como em desprezo do infernal estado.

Por entre as tumbas me levou direito
Ao vulto o Mestre com seu braço presto,
Dizendo-me: — “Sê claro em teu conceito!” —

Junto ao sepulcro apenas fui, com gesto
Severo um pouco olhou-me e desdenhoso
— “Teus maiores?” — falou — “Faz manifesto”.

Eu, já de obedecer-lhe desejoso,
Quanto sabia expus-lhe francamente.
O sobrolho arqueava um tanto iroso,

E tornou: — “Guerra crua fez tua gente
A mim, aos meus avós, ao partido;
Mas duas vezes bani-os justamente”. —

— “Mas todos os que expulsos tinham sido
Se hão, de uma e de outra vez repatriado:
Não têm essa arte os vossos aprendido”. —

Surgindo então de Farinata ao lado
Somente o rosto um vulto nos mostrava,
Sobre os joelhos, cheio, levantado.

Com ansiosos olhos me cercava
A ver se alguém viera ali comigo.
Mas, perdida a esperança, que o animava,

Pranteando inquiriu: — “Se ao reino imigo
Por prêmio baixas do teu alto engenho,
Onde é meu filho? Pois não vem contigo?

— “Por moto próprio aqui” — volvi — “não venho;
Perto me aguarda quem meus passos guia,
Vosso Guido talvez teve-o em desdenho”.

A pena sua e as vozes, que lhe ouvia,
Denunciado haviam-me o seu nome:
Pude assim responder quanto cumpria.

Súbito ergueu-se o espírito e gritou-me:
“Teve disseste: não mais vive agora?
O corpo seu a terra já consome?”

Como eu tivesse em responder demora
À pergunta, de costas recaía,
E novamente não mostrou-se fora.

Mas esse outro magnânimo, que havia
De antes falado não mudou de aspeito;
No colo e busto imóvel persistia.

— “Se aquela arte não dera ao meu proveito” —
Prosseguiu — “me produz esta certeza
Maior tormento no adurente leito.

“Porém vezes cinqüenta a face acesa
Não mostrará do inferno a soberana
Sem que tu saibas quanto essa arte pesa.

“Assim possas voltar à vida humana!
Contra os meus, diz, por que tanta maldade
Em cada lei, que desse povo emana” —

Eu respondi: — “O estrago, a mortandade,
Que do Árbia as águas de rubor tingira
A cúria nossa move à austeridade”. —

Inclinando a cabeça então, suspira
E diz: — “não fui lá só naquele dia,
Nem sem motivo aos outros eu seguira.

“Porém achei-me só, quando exigia
De Florença a ruína o geral brado:
A peito descoberto eu defendia-a”. —

— “Seja o descanso à vossa prole dado:
Mas, vos suplico, de penoso enleio
Fique o juízo meu descativado.

“Se bem percebo, do futuro ao seio
Subindo e ao tempo o curso antecipando,
Do presente ignorais todo o rodeio”. —

— “Os que têm vista má nos semelhando” —
Tornou-me — “as cousas mais distantes vemos,
De Deus última luz em nós raiando.

“Quando estão perto ou no presente as temos
Se apaga a lucidez, e a mente aprende
Por outrem só o que de vós sabemos.

“Ciência nossa do porvir depende;
Em sendo a porta do porvir cerrada,
Essa luz morre em nós, não mais se acende”.

Então minha alma, de remorso entrada,
“Dize” — replico — à sombra, a quem falava,
Que o filho inda entre os vivos tem morada.

Se presto lhe não disse o que exorava,
Da dúvida, que, há pouco, heis-me explicado
Pela influência dominado eu stava”. —

Se bem fosse do Mestre apelidado,
Rogando a sombra a me dizer prossigo
As almas, de quem stava acompanhando.

Respondeu: — “Muitos mil jazem comigo
Aqui dentro, o Segundo Frederico,
Com ele o cardeal, de outros não digo”. —

Dos olhos se apartou. A cismar fico,
Voltando ao sábio Mestre, na ameaça
Desse, que ouvira, vaticínio único.

Ele caminha, e, enquanto avante passa,
Me diz: “Por que és torvado?” — Eu tudo conto
Expondo o que me inquieta e me embaraça.

— “Do que ouviste a memória cada ponto
Conserva!” — o sábio ordena; e, logo, alçando
O dedo, segue: — “Agora escuta pronto.

“Ante o doce raiar daquela estando,
Que tudo aos belos olhos tem presente,
Se irão da vida os transes revelando”. —

Moveu-se logo à esquerda diligente;
Deixando o muro, ao centro caminhava
Por senda, que descia ao vale horrente,

Que hediondos vapores exalava.

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Esta versão do Canto X da Divina Comédia está em:
http://pt.wikisource.org/wiki/A_Divina_Com%C3%A9dia/Inferno/X

sobre os personagens e eventos citados por Dante neste canto consultar:
http://www.stelle.com.br/pt/inferno/notas_10.html

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A Noite Escura da Alma III - Ainda o Equilibrista na Beirada do Abismo


A culpa
http://giramundo-cirandeira.blogspot.com.br
Primeiro dia do ano de 2013, nem 05h30min da manhã, ainda escuro lá fora e tão silencioso quanto possível no centro de uma cidade como Curitiba em um feriado que ainda nem clareou. Uma abelha perdida se deixa atrair pela luz e bate-se em desespero entre o monitor e a luminária – eu a expulso tentando não lhe causar nenhum dano... Penso na Noite Escura da Alma, no sentimento de culpa que obscurece tudo, que apressa o cair da noite e a torna mais longa, fria e escura... Penso no castigo e no perdão, duas coisas que não tem razão de existir a não ser pela culpa...
Culpa – cul.pa sf (lat culpa) 1 Ato repreensível ou criminoso. 2 Responsabilidade por um ato ou omissão repreensíveis ou criminosos: "Culpa é toda violação de um dever jurídico" (C. Beviláqua). 3 Consequência de se ter feito o que não se devia fazer. 4 Delito, crime. 5 Causa de um mal. 6 Pecado. (Michaelis dicionário de português online)
Assim, na seca, é fácil. Afinal são apenas palavras, não dão conta do sentimento que corrói o ser por dentro, não individuam as coisas, não traduzem o sofrimento de quem se sente culpado nem os propósitos e motivos – justos ou não – de quem atribui a culpa. São definições genéricas, aproximações, tentativas da linguagem de cercar o assunto, não a coisa em si. Não bastassem as dificuldades próprias da vida, há sempre alguém para nos mostrar como somos culpados ou culpáveis, como merecemos o castigo e não merecemos a recompensa... Faça ou não sentido, temos a tendência de acreditar, porque são quase sempre pessoas a quem respeitamos e admiramos, pessoas a quem damos espaço e permissão no papel de amigos, mestres ou conselheiros e que acabam por se achar no direito de agirem como juizes de um tipo que não precisa explicar nem a decisão que tomam a nosso respeito e nem a natureza da culpa pela qual estão nos condenando. Nos fazem sentir culpados de crimes dos quais antes nos julgávamos inocentes – ou, mais ainda – nos atribuem culpas que nem mesmo sabíamos que existiam ou poderiam existir.
(final da tarde, quase 20h pelo horário de Verão – 1º de janeiro de 2013: um arco-íris desenhou-se no céu de Curitiba. Isto parece um bom presságio para o ano que está começando).
 Equilibrar-se na beirada do abismo é viver no quase, é como caminhar sobre o fio de uma navalha estendida como ponte sobre a vastidão sem fundo: o que era já passou, o que está vindo a ser ainda não é. Tudo o que resta é o presente, o abismo ameaçador, o vento frio e a insegurança de um momento único e que pode ser o último...

(quase parece haver um plano, uma unidade nesses textos que estão sendo aqui postados. Ainda há bastante para se falar sobre a culpa e seus desdobramentos naturais, o castigo e o perdão... Generalidades a caminho de particularidades. Vamos delimitar a paisagem antes de fazer o reconhecimento dos elementos particulares dela)