quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A Noite Escura da Alma III - Ainda o Equilibrista na Beirada do Abismo


A culpa
http://giramundo-cirandeira.blogspot.com.br
Primeiro dia do ano de 2013, nem 05h30min da manhã, ainda escuro lá fora e tão silencioso quanto possível no centro de uma cidade como Curitiba em um feriado que ainda nem clareou. Uma abelha perdida se deixa atrair pela luz e bate-se em desespero entre o monitor e a luminária – eu a expulso tentando não lhe causar nenhum dano... Penso na Noite Escura da Alma, no sentimento de culpa que obscurece tudo, que apressa o cair da noite e a torna mais longa, fria e escura... Penso no castigo e no perdão, duas coisas que não tem razão de existir a não ser pela culpa...
Culpa – cul.pa sf (lat culpa) 1 Ato repreensível ou criminoso. 2 Responsabilidade por um ato ou omissão repreensíveis ou criminosos: "Culpa é toda violação de um dever jurídico" (C. Beviláqua). 3 Consequência de se ter feito o que não se devia fazer. 4 Delito, crime. 5 Causa de um mal. 6 Pecado. (Michaelis dicionário de português online)
Assim, na seca, é fácil. Afinal são apenas palavras, não dão conta do sentimento que corrói o ser por dentro, não individuam as coisas, não traduzem o sofrimento de quem se sente culpado nem os propósitos e motivos – justos ou não – de quem atribui a culpa. São definições genéricas, aproximações, tentativas da linguagem de cercar o assunto, não a coisa em si. Não bastassem as dificuldades próprias da vida, há sempre alguém para nos mostrar como somos culpados ou culpáveis, como merecemos o castigo e não merecemos a recompensa... Faça ou não sentido, temos a tendência de acreditar, porque são quase sempre pessoas a quem respeitamos e admiramos, pessoas a quem damos espaço e permissão no papel de amigos, mestres ou conselheiros e que acabam por se achar no direito de agirem como juizes de um tipo que não precisa explicar nem a decisão que tomam a nosso respeito e nem a natureza da culpa pela qual estão nos condenando. Nos fazem sentir culpados de crimes dos quais antes nos julgávamos inocentes – ou, mais ainda – nos atribuem culpas que nem mesmo sabíamos que existiam ou poderiam existir.
(final da tarde, quase 20h pelo horário de Verão – 1º de janeiro de 2013: um arco-íris desenhou-se no céu de Curitiba. Isto parece um bom presságio para o ano que está começando).
 Equilibrar-se na beirada do abismo é viver no quase, é como caminhar sobre o fio de uma navalha estendida como ponte sobre a vastidão sem fundo: o que era já passou, o que está vindo a ser ainda não é. Tudo o que resta é o presente, o abismo ameaçador, o vento frio e a insegurança de um momento único e que pode ser o último...

(quase parece haver um plano, uma unidade nesses textos que estão sendo aqui postados. Ainda há bastante para se falar sobre a culpa e seus desdobramentos naturais, o castigo e o perdão... Generalidades a caminho de particularidades. Vamos delimitar a paisagem antes de fazer o reconhecimento dos elementos particulares dela)

2 comentários:

  1. a culpa!! quanto já alimentamos essa energia, né? Eu quero é estar no presente, respirar e saber que estou fazendo essa "bobagem", respirando e isso somente é oq ue existe o resto..vem no sopro do vento frio ou morno, depende das paragens!!
    Ilustre amigo, grande honra estarmos nessa paragem juntos. Beijoca
    Cacinha

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    1. Concordo em gênero, número e grau contigo, Cacinha. A gente não tem que alimentar uma coisa como essa, mas parece bom tentar entender, dissecar, "cercar por todos os lados". A culpa é o inimigo - ou um dos inimigos, e (dizia Sun Tzu, de "A Arte da Guerra") se você se conhece e conhece a seu inimigo, a vitória é certa... Estou gostando deste espaço de reflexão aqui. Vamos em frente pelos caminhaos desta vida...

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