Mal
e mal começou e este blog será obrigado a dar um tempo... Não são propriamente
férias - de férias eu estou agora (ainda), e isso vai acabar logo, no máximo
mais alguns dias, e tudo vai voltar ao ritmo normal, ou seja, acelerado, nada
mais da ilha de paz e tranquilidade deste momento, quando tenho todo o tempo do mundo
pra seguir minhas preferências.
Não
conclui, como era o primeiro intento, minha reflexão sobre A Noite Escura da
Alma: a culpa, o castigo e o perdão - eu sempre me meto a tentar resumir em
poucas palavras coisas que mereceriam teses ou tratados e, obviamente, nunca
dou conta. Também, nunca tive a pretensão de possuir alguma verdade definitiva
que pudesse dar um ponto final em assuntos tão complexos... Só quero é
apresentar o meu entendimento, até mesmo porque não há nada mais que eu possa
fazer senão isso.
Claro
que vou voltar ao assunto, até porque ele mal e mal foi arranhado na superfície
e este tem sido um tema importante para mim agora - quando estou
me libertando de culpas e assumindo um novo momento na vida, mas não vou
forçar a barra comigo mesmo me apressando para chegar a conclusões artificiais.
Isto aqui surgiu para ser muitas coisas, não uma só - um painel do mundo
variado, da vida mutante e mutável, das impressões fugazes, das
impermanências... Tudo o que vive um dia nasceu. Tudo o que um dia nasceu não
era nada antes de passar a ser. Tudo o que um dia passou a ser morrerá. Aquilo
o que conhecemos, tudo no que acreditamos, tudo o que somos... A vida é fugaz
como a chama de uma vela que se acende, brilha por algum tempo e depois se
apaga. Simples assim.
Cada
um de nós não passa de mais um na multidão e temos todos, o tempo inteiro, que
sobreviver a um enorme volume de informações, imagens, vozes, dados e discursos
de todo tipo. Viver é movimentar-se em meio a paradoxos, inconsistências e
incertezas. Ainda que Deus exista e dite o modo de vida correto, estamos
condenados à dúvida e ao livre-arbítrio. Eis o mundo onde tudo é possível, onde
todas as verdades absolutas e acabadas são obrigadas a conviver entre si como
absolutamente iguais ou equivalentes. A História é sempre história do presente,
faz parte do discurso de sua própria época ou da forma contemporânea de
entendimento do mundo, por mais que se refira ao passado. E o mundo presente é
impalpável, impermanente, caótico, volátil - um abismo sem fundo povoado de
vozes e imagens e ruídos. Tudo o que há de mais importante para se saber é que,
por mais que saibamos, nunca sabemos nada. A única conclusão que a vida oferece
é a morte e, se existe algo depois, não nos cabe saber - pode-se, no máximo,
acreditar - o mais é vaidade.
Em 2012 o bicho pegou: perdi
meu pai, fiz alguns inimigos, entrei num acordo de armistício com alguns outros
nem tão inimigos assim para que nos mantivéssemos cada qual na sua enquanto havia
assuntos mais complicados para resolver, concluí um curso universitário na idade
madura, antevéspera de ficar velho – e assisti de camarote o fim do mundo... No
dia marcado para o Apocalipse eu, agora órfão, estava viajando em férias para
ver minha mãe, agora viúva. Toneladas de fardos pesados foram descarregados do
lombo e restava agora uma exaustão, um cansaço acumulado, uma fome voraz e
muito sono atrasado... Nada de aventuras até a reinauguração do mundo, mais
recolhimento e descanso, recuperar as forças e manter a concentração para o
trabalho que ainda vem por aí: nada menos que construir o mundo novo.
A morte é inevitável e
irresistível quando chega a hora, e ela presenteia os vivos com a percepção da
eternidade; os inimigos são necessários para que possamos definir quem realmente
somos, assim como os reflexos no espelho nos mostram ao contrário para nós mesmos. Neste momento não há crise, tudo está fácil e suave, e fica difícil levar este texto a uma conclusão que nem existe. Depois de ter escrito tudo isso que está aí acima, o que resta? Sem crise não há arte, como sem dor não há alívio... Ah, sei lá, desisto por enquanto. Vamos abrir uma porta!...